Por pouco o motorista Rafael Queiroz Silva, 29 anos,
natural de Ipatinga (MG) e residente na cidade de Coronel Fabriciano (MG), não
foi linchado na manhã desta terça-feira (12) na BR 155, entre Marabá e Eldorado
do Carajás, por integrantes do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra
(MST), depois que ele atropelou e matou esmagada a camponesa Maria Paciência
dos Santos.
A manifestação dos cerca de 1.500 integrantes do
MST, que culminou com o bloqueio da rodovia federal em frente à sede da Fazenda
Peruana, teve início na madrugada desta terça-feira (12). Os manifestantes
exigem melhorias nos acampamentos, nas estradas de acesso, crédito fundiário e
celeridade nas desapropriações. Até o final da tarde, enormes filas de veículos
se formavam nos dois lados da pista.
Conforme apurou a reportagem no local do bloqueio da
estrada e junto à polícia, após o atropelamento o condutor do veículo foi
detido pelo grupo, amarrado e quase foi linchado, só escapando porque algumas
lideranças do MST convenceram os mais exaltados a levar o motorista para a Delegacia
de Polícia Civil em Eldorado do Carajás.
Por medida de segurança, o caminhoneiro foi
encaminhado para Parauapebas, onde, acompanhado do advogado Thiellis Abílio
Tinelli Rocha, prestou depoimento e até o final da tarde se encontrava detido à
disposição da Justiça.
Em depoimento, o motorista Rafael Silva contou que transitava
normalmente na BR por volta das 5 horas da manhã, sentido Eldorado/Marabá, conduzindo
o caminhão baú Mercedes Benz, transportando carne e cereais (arroz, feijão,
farinha e outros), quando foi surpreendido com a interdição da estrada.
O caminhoneiro acrescenta que, como ainda estava
escuro e não havia nenhum tipo de sinalização na rodovia, ele acabou colidindo
frontalmente com a barreira de pneus. Posteriormente, segundo ainda o depoente,
ele avistou que havia pessoas após os pneus, precisamente na outra margem da
via, que partiram em desabalada carreira em direção ao caminhão e iniciaram
agressão física contra ele, que foi amarrado e agredido com pauladas e
“panadas” de facão e foice, além de várias ameaças de morte.
De acordo ainda com o motorista, ele foi retirado da
cabine do caminhão por três indivíduos e levado num veículo Corsa verde até uma
estrada, onde ali foi informado que ele acabara de atropelar e matar uma pessoa
que estava no local e recebeu ameaça de morte. Foi quando um dos indivíduos orientou
a conduzir o depoente até o acampamento, pois no local corria risco de morte, de
onde foi levado para a delegacia de Eldorado do Carajás.
Procurado pela reportagem, o delegado Marcelo
Delgado Dias explicou que, depois de ouvir em depoimento Rafael Silva, a
polícia vai colher informações também de membros do MST que testemunharam o
atropelamento na rodovia com vítima fatal.
Por seu turno, o coordenador regional do MST,
Antonio Lopes, afirmou que o movimento só iria desobstruir a rodovia depois que
os manifestantes fossem recebidos por representantes do Ministério de
Desenvolvimento Agrário, do Incra e do Iterpa.
José Ailton da Silva, filho da mulher que foi
atropelada e morta, ainda bastante emocionado, disse que o caminhoneiro
trafegava em alta velocidade, passou sobre os pneus velhos que faziam a
barreira e matou a mãe dele. (Vela
Preta/Waldyr Silva)